terça-feira, 18 de agosto de 2015

Vivendo e Aprendendo 2 " A Mordida "

Final da década de 50, anos dourados da minha meninice super divertida e hiper feliz!

Tudo vem a tona quando observo a pequena cicatriz  no indicador, tão esmaecida e fina que talvez  ninguém mais  a veja ,mas é  tão vívida  e significativa para mim !

O mundo cabia na nossa rua ! Tudo que eu precisava estava ali : as melhores amigas, a  professora de piano  e seu quintal maravilhoso repleto de jabuticabeiras,  o colégio , as casas das amigas  e aquele mundão de rua sossegada e larga onde jogávamos queimada e andávamos de bicicleta. 
As calçadas amplas e vilas estreitas eram nosso domínio também e minha mãe dizia que eu era visita , nunca parava em casa ! A rua São José era o paraíso ,os dias ficavam pequenos para nós .

Tínhamos uma brincadeira que era como um contrato :  uma vez combinado , dedinhos entrelaçados selavam o trato e assim  " Capadinho a Meia " entrava em vigor . Tudo que uma estivesse comendo  deveria ser dividido com a outra. O melhor mesmo  era comer bem longe da dita contratante, sempre atenta e  de olho na mandíbula alheia .

Minha amiga de "capadinho a meia" era gulosa e seus lindos olhos verdes pareciam binóculos, sempre buscando longe  e mesmo não vendo o que era  a guloseima  gritava a palavra de ordem para  garantir seu bocado.  Era difícil demais escapar dela !

Minhas merendas eram sempre disputadas , papai mandava levar ao colégio religiosamente na hora do recreio, pão com bife, pão com linguiça....tudo quentinho feito na hora ; pura tentação  para qualquer um, imagine  para a amiga gulosa, protótipo da Magalí da Turma da Mônica!

"Capadinho a meia aí! gritou logo, sem nem saber o que vinha  . E lá fui eu dividir meu santo pão com linguiça, porque  trato é trato  e palavra de amiga não volta atras! Calculei a medida , marquei segurando firme com o indicador  e falei: até aqui !

Coitada  de mim ...a bocada extrapolou o limite e apesar da minha gritaria  os dentes aflitos  não liberavam !  Quando finalmente desistiu de cortar o suposto nervinho que dificultava o avanço dentário,  meu pobre dedo estava  detonado, sangrando, e  muito dolorído.

A mordida vigorosa ficou registrada para sempre. Rimos demais quando anos depois mostrei a pequena cicatriz e relembramos aquele  dia  que ficou na história .
Melhor ainda é que nunca brigamos , nossa amizade atravessou décadas, cada encontro é uma alegria e sempre deixa  gosto de quero mais !











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